terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Ah, a raiva


Ela sentiu um frio na espinha quando o viu. Não sabia dizer o que era. Então num gesto normal o cumprimentou como nos velhos tempos. A medida que a conversa evoluía retirando-se das "cerimônias iniciais" ela ficava cada vez mais desconfortável. Havia algo nele que a estava incomodando. Era como se aquele cara que ela havia namorado durante bons 2 anos, pelo menos para ela, fosse outro e, realmente, era. Faltava algo nele. Aquela luz que ele sempre transmitira havia se apagado. Não havia mais sensibilidade naquela pobre alma. Ela não conseguia mais sentir nada nele além de um frio e uma escuridão que acobertava uma raiva. Parecia que ela estava falando com uma pedra. Sentiu medo. Percebendo o olhar fixo da garota, o rapaz, deu um leve sorriso no canto da boca. Sem entender ela pediu uma explicação.
- Satisfeita?
- Do que está falando?
- Desse olhar fixo de indagação sobre mim percebendo que mudei.
- Ahmm. Não estou o reconhecendo mais, o que houve?
Olhando fixamente nela e deixando transparecer pelo seus olhos o ódio em sua forma mais primitiva, mas, ainda sim, com muita serenidade, ele diz:
- Você.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Pegadas


Seguindo minhas próprias pegadas. Novamente aqui estou cometendo os mesmos erros. Em algumas delas quase caio de tão fundas que já estão pelas repetidas vezes que passei. Meu caminho não encontro e cada vez que volto a me seguir volto a me perder. O castelo de areia que construí dentro da minha cabeça se desmancha novamente. Vou demorar até construir outro e se não sei quem sou agora até lá já serei outro.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Ar, ar...

    
      Ar, ar. Preciso de ar. Preciso de uma lugar vazio e silencioso para pensar. Aqui onde estou as pessoas não me entendem. Só querem me usar. Quero um bar onde possa beber e fumar. Onde possa organizar minha idéias. Para onde irei e o que farei. Preciso descer desse mundo que anda rápido demais. Preciso sair desse mar que quer me afogar. Quero dar um último suspiro antes de tudo acabar. Ar, Ar. Preciso de ar...


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Não sei



Eu bem que tento. Consegui mudar. venci as dificuldades, ou parte delas, impostas por mim mesmo. Mas, tornei-me alguém melhor? Não sei. As respostas estão vindo com o tempo. Minha auto-defesa pode machucar os outros. Minhas já não estão claras novamente. Escureci minha mente e fechei meus olhos. E qualquer um que se aproximar encaro como um inimigo. Subi esse penhasco até o ar se tornar rarefeito e quem quiser me alcançar pode estar roubando meu ar. Antes o estranho "ir" do que eu. Agradeço apenas se for a solidão me fazendo companhia. Ela é a única, no momento, que consigo aturar.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Décimo andar.



Há dias em que a solução mais fácil para resolver os problemas parece ser me jogar do décimo andar e me esfacelar feito panqueca no asfalto frio da cidade imunda. Mas isso seria facilitar o jogo para a vadia da vida. Tento não me entregar tão fácil, mas sempre surgem novas complicações ou, como os positivistas falam, novos desafios e esse ciclo repetitivo me enjoa. Tenho curiosidade para saber como seria e o que pensaria naquele momento de queda livre. Sabendo que não haveria mais nada pela frente. Bem, assim como temo os desafios também temo perder a vida. Grande novidade essa, vindo de um covarde como eu. Espero que um dia perca o medo de um desses dois.


domingo, 9 de março de 2014

Desperdício


Aquela chuva fina caía lentamente. Era tão miuda que parecia ser incapaz de molhar. Eu, apenas a observava caindo diante de tanto concreto. Ver aquilo me deixava pior. Parecia estar diante de um cemitério molhado. O único som que podia sentir era o da vitrola arranhado o disco de vinil. Morrison berrava Love me two times. Eu não sabia o que sentir naquele momento. Na verdade eu não sabia o que era sentir já faz algum tempo. A música acabando me fazia refletir que a cada segundo que passava era um a menos na minha vida. Quanto tempo eu tinha? O que estava fazendo? Resumindo, NADA. Era um completo inútil. Enquanto algumas pessoas lutavam pela vida num leito de hospital eu a desperdiçava da pior maneira (Será que eu poderia vender o "meu tempo" para essas pessoas?). Senti-me mal naquele momento. Senti-me o ser mais idiota e egoísta do planeta. Foi apenas por um momento. Vi que pelo menos começava a fazer algo, refletir sobre minha postura. Já não era mais um inútil. Logo depois, voltei a desperdiçar meu tempo.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Papo de bar


Aqueles dois homens continuaram conversando no bar. Notava-se que um deles estava preocupado. Não conseguia manter o foco em nada e mexia compulsivamente. Até que quebrou o silêncio.
- Não paro de pensar nela.
- Pois é. Sabia que havia algo de errado contigo. Acalme-se e complete seu copo.
- Não tem noção de como a quero. Percebi que ela é a mulher da minha vida.
- Cale a boca! Não sabe a merda que disse.
- Claaaaaro. Falou o "Sr. experiência com mulheres" em pessoa.
- Você está descontrolado, mas mesmo assim tentarei fazer minhas palavras entrarem na sua cabeça. Escute. Você a quer certo? Você acha que a terá?
- Sim, sim, sim
- Não me interrompa, voltando. Saiba que nunca a terá!
- AHAM! Ah, vá a merda!
- Fique quieto. Deixe eu terminar. Essa via é de uma mão só, meu caro. Só ela o terá, ou melhor, já o tem. A melhor coisa que tem a fazer é saber que está sendo controlado e não se importar com isso. Admita para si mesmo isso. Torça para que ela não saiba "jogar". Senão pelo contrário bastará abrir as pernas para lhe ter lambendo os pés. Renda-se enquanto há tempo, pois ela saberá transformar sua vida num verdadeiro inferno. Bote isso na sua cabeça e não se importe mais.
- (Gargalhadas). Nunca ouvi tanta merda em minha vida em tão pouco tempo.
- Eu já admiti pra mim e estou muito bem. Agora é sua vez.
- Ok, ok.... mas a próxima quem paga é você.
- Garçom!!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Tolo


Apanhou, caiu e levantou. Continuou andando, porém sem rumo. Ele já não sabe mais o que fazer. Se considera homem feito, mas chora escondido achando que o mundo deveria ser do seu modo. Não passa de um garotinho que ao sinal de qualquer perigo esconde-se embaixo do vestido da mãe. Talvez seja esse o problema. Vive num mundo que não é seu. Que não foi construído por ele. Sempre moldado pelos outros. Sua liberdade não é verdadeira, pura ilusão de um conto de fadas que faz questão de acreditar. 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O mentiroso


Voltou cabisbaixo para casa. Sua preocupação era consigo. Estava transformando-se no que? Possivelmente em alguma coisa que não conseguiria controlar. Não conseguia enxergar o homem que estufava o peito para falar mentiras e concordar com verdades que não lhe pertenciam. Estava viciado. Sua verdadeira vida foi falsificada por ele mesmo. Sua máscara sempre caía quando sua coragem era posta em jogo. Tantos desejos tantas intenções que não conseguiam ser ditas frente aos outros, mas agora já era tarde. Em algum momento breve, todos descobririam e ririam dele por saber quem ele não era, quem ele não foi e no perdedor que se transformou. A única certeza é que sua vida de mentiras agora era a mais pura verdade.